Manual Sobre Vivência

Caro leitor: quando nasceu, foi-lhe entregue o respectivo manual sobre como sobreviver neste mundo? Não? Temo dizer que foi enganado e sugiro que siga este blogue atentamente, se possível, algumas vezes por dia!

terça-feira, junho 28, 2005

Entrevista com um Tsunami...

Entrevistador - Você é conhecido por Tsunami, mas esse não é o seu verdadeiro nome...
Tsunami - De facto! Chamo-me José Pereira da Costa e nasci no Bombarral!

E. - Quando é que percebeu que queria ser tsunami quando crescesse?
T. - Costumava rodopiar na minha banheira em pequeno, fazia-o com tal intensidade que um "caça-talentos" disse-me que podia fazer muito dinheiro com este dom! Os meus pais diziam-me ao início que eu tinha um desequilíbrio nas placas tectónicas, mas eu nunca entendi se era um elogio ou uma crítica!

E. - E como é que começou?
T. - O meu primeiro trabalho foi num jacuzzi mas aquilo não correu nada bem! As pessoas pareciam sair de lá relaxadas e o meu objectivo era que elas nem saíssem de lá! Estive lá apenas um ano e de seguida fui convidado para fazer ondas numa piscina municipal, mas as Câmaras Municipais pagam tarde e tive de me direccionar para outro lado!

E. - Foi aí que decidiu emigrar?
T. - Por mim, desenvolvia a minha actividade no meu país, mas ainda há muito preconceito contra os tsunamis em Portugal! Todos falam daquela situação do sudeste asiático mas as pessoas esquecem-se que há bons e maus profissionais, tal como em todas as profissões!

E. - Isso é uma crítica aos media?
T. - Todos falaram mal do tsunami, mas alguém se lembrou de falar "com" um tsunami? Não! Agora as pessoas generalizam, discriminam os tsunamis que só querem fazer o seu trabalho de uma forma honesta! Alguém fala das nossas condições de trabalho, dos salários em atraso? Ainda nem recebi o subsídio de risco do ano transacto... enfim, é muito triste!

E. - Sentiu-se descriminado?
T. - Depois daquela tragédia, deixei de fazer a minha vida como fazia! Antes, era abordado na rua com simpatia e as pessoas diziam gostar do meu trabalho! Diziam-me: "Dê cá um beijinho, senhor tsunami! Aprecio muito o seu trabalho! Gosto muito de o ver na televisão!". Até cheguei a ir ao programa do Goucha, deixei o estúdio todo alagado! Foi lindo! De 26 de Dezembro para cá, tem sido péssimo! Olham-me de lado, fazem comentários desagradáveis... é muito complicado!"

E. - Já receava que isto acontecesse um dia?
T. - Infelizmente, sim! O tsunami que fez aquilo no sudeste asiático foi meu colega de trabalho e sempre senti que ele era um pouco desequilibrado; enfim, uma infância triste! Era excluído socialmente e costumava ter uma postura radical em tudo! Temia que aquilo acontecesse o que veio a suceder, quando soube que ele encontrava-se naquela região do planeta!

E. - "Paga o justo pelo pecador"?
T. - Exacto! Até a minha família ressente-se disso! Actualmente, desenvolvo a minha actividade fora do meu país: Hawai, Austrália, Costa Rica... enfim, vou a todo o lado! Estou sempre disponível para trabalhar seja onde for, mas é incrível e lamentável que tenha de o fazer longe de Portugal!

E. - Considera voltar a Portugal?
T. - Ericeira e Carcavelos são destinos que me agradam, mas julgo que Portugal não está preparado para apreciar o trabalho de um tsunami. Não os condeno! Temos medo do que não conhecemos e os portugueses estão muito receosos.

E. - Vamos falar do futuro! Os seus filhos querem seguir a sua profissão?
T. - Sempre disse que não iria incentivá-los a seguir a profissão de tsunami! É uma vida muito instável, ganha-se pouco, não temos um local de trabalho fixo, o que por vezes provoca uma certa instabilidade familiar. Felizmente, tenho uma companheira que me compreende e que me apoia em todas as decisões. Não "faz ondas", e isso é muito bom!

Example
Em cima: Um tsunami incompreendido tenta chamar a atenção do público presente

quinta-feira, junho 23, 2005

"Agora, só pessoalmente"

Paciente: "Bom dia! Quero marcar uma consulta!"
Funcionária: "Lamento, minha senhora! Agora, as marcações de consultas nos Centros de Saúde "só" poderão ser efectuadas por telefone!"
P: "Isso é óptimo! Agora "também" se podem fazer marcações de consultas por telefone?"
F: "Não, minha senhora! As marcações de consultas "só" podem ser feitas por telefone!"
P: "Deixe-me compreender! Estou aqui pessoalmente e você diz-me que só posso marcar a minha consulta se telefonar para este Centro de Saúde?"
F: "Exactamente!"
P: "Muito bem! Dê-me então o número daqui que eu vou ligar para si do meu telemóvel!"

Momentos depois…

Funcionária: "Olhe, desculpe! A chamada não pode ser efectuada dentro das instalações do Centro de Saúde!"
Paciente: "Mas eu estou à porta!!??"
F: "Tem que ser fora das instalações…"

Um pouco depois…

Paciente: "Olhe, o saldo do meu telemóvel acabou e não posso marcar a consulta por telefone! Acha que podia fazer-me um jeitinho e deixar-me marcar a consulta pessoalmente?"
Funcionária: "Desculpe, normas são normas e aplicam-se a todos…"

Umas horas depois…

Paciente: "Boa tarde, eu estive aí esta manhã e só agora é que consegui ligar para marcar a consulta!"
Funcionária: "Muito bem! Para que horas queria a consulta?"
P: "Às nove da manhã!"
F: "Está marcado, então! Mas… espere um pouco… esta marcação vai ficar sem efeito!"
P: "Porquê?"
F: "A hora para a marcação de consultas por telefone já passou! Agora, só pessoalmente!"

Saco sem fundo...

Imagine que está a pagar uma renda mensal a determinada pessoa e que descobre mais tarde que o receptor desta ajuda financeira, não devia receber esse dinheiro porque afinal, tinha outros rendimentos para além daquele que recebia de si. Descoberta esta situação, você intimava o beneficiado para pagar toda a quantia que recebeu indevidamente! O receptor deste dinheiro alegava que não tem posses para cobrir aquela quantia e pede-lhe ajuda para saldar esta dívida! Você concorda e, do seu próprio bolso, dá a essa pessoa o dinheiro suficiente para que o endividado salde essa dívida consigo!

Só pode ser ficção, pura ficção!

Ficção? Então cá vai:

A mãe de um amigo meu recebeu indevidamente e ao longo de alguns anos, o chamado Rendimento Mínimo Obrigatório, que na sua criação destinava-se, se bem me lembro, a pessoas sem qualquer outra fonte de rendimento! A mulher, confiante que a "máquina" estatal não cruzava dados, conseguiu provar à Segurança Social (sabe-se lá como...) que num agregado familiar onde existem mais três pessoas com idade para trabalhar, estava tudo em casa a "laurear a pevide" ou então, que eram todos inválidos para trabalhar, o que é ainda mais engenhoso! Mas o Estado (sabe-se lá como...), descobriu a "marosca" e notificou a mulher para que esta pagasse todo o dinheiro que tinha recebido de forma indevida. Pânico, terror! Como é que a mulher iria pagar essa dívida? Simples! Pediu ajuda à Segurança Social e esta prontificou-se a disponibilizar o dinheiro da dívida para que o Estado não saísse prejudicado daquela falcatrua!

E por aqui me fico...

quarta-feira, junho 22, 2005

O masoquismo de Durão

José Barroso: "Ai prevaricaste, meu desmazelado?"
Durão Barroso: "Não consegui controlar as finanças públicas, peço imensa desculpa!"
J. B. : "Mas como é que isso aconteceu?"
D. B. : "Não sei, senhor Presidente da Comissão Europeia! Mas garanto-lhe que parte da culpa foi dos governos anteriores, sabe? Do Cavaco, do Guterres, desse pessoal todo! Aquilo foi borrada, atrás de borrada! Eu via a dimensão do buraco financeiro, conforme o volume do penteado da minha Ministra das Finanças! Houve momentos que achei que aquele cabelo enveredasse por uma carreira a solo no mundo da política! Foi assombroso!"
J. B. : "Ai, Durão, Durão! Você tem consciência de que não é por ser português que eu vou fechar os olhos a isto, certo? Como ex-Primeiro-Ministro, você devia estar consciente de que 6,8% é uma percentagem absolutamente inaceitável! Se eu estivesse no seu lugar e se visse que as finanças públicas estavam a resvalar, tinha abandonado imediatamente o cargo com um alibi fabuloso, do estilo: "recebi um convite irrecusável para me candidatar a Presidente da Comissão Europeia...!" Qualquer coisa desse género!"